"Cerca de 350 mil portuguesas entre os 18 e os 49 anos fizeram pelo menos um aborto ilegal, sendo que quase três quartos aconteceram até às dez semanas de gravidez e seriam legais de a alteração legislativa proposta no referendo estivesse em vigor. Os dados constam de um estudo encomendado pela Associação para o Planeamento da Família (APF), citado pelo JN.
Constantino Sakellarides, ex-director-geral da Saúde, disse ao JN que a realidade é que «não se trata de um fenómeno marginal». Se 14,5 por cento das duas mil mulheres dos 18 aos 49 anos inquiridas neste estudo (que correspondem a 20 por cento daquelas que engravidaram) admitem ter feito um aborto, «extrapolado para a população, são 350 mil pessoas».Só no último ano terão sido entre 17.260 e 18 mil as IVG ilegais. Números que, segundo Duarte Vilar, da APF, podem «pecar por defeito», dada a «natureza da questão, que incide sobre um comportamento ilegal e pode levar a alguma omissão».
Sakellarides realça que «a maioria das mulheres (83 por cento) fez apenas um aborto, ou seja, não é uma questão de abortar conforme calhe». Até porque 75,7 por cento dizem ter sido uma situação «muitíssimo difícil» ou «muito difícil».O especialista em Saúde Pública atenta ainda no perfil da mulher que aborta. 15,4 por cento das mulheres com Ensino Básico já abortaram, tal como 13,2 por cento das que concluíram o Ensino Secundário e 14,1 por cento das que têm grau de instrução superior.39 por cento das mulheres que abortaram são solteiras e 35 por cento separadas ou divorciadas. «São relativamente jovens, demasiado para ter filhos, numa fase da vida em que não há compromissos conjugais estabelecidos e são apanhadas por circunstâncias cujo controlo não está ao seu alcance», explica Sakellarides.
As pressões familiares e a rejeição da gravidez pelo companheiro, por seu lado, são apontadas como motivos para decidir abortar em 17 por cento dos casos. «Claramente razões que a mulher não controla», tal como as 24 por cento que indicam a falta de condições económicas ou o facto de terem tido um filho pouco antes, contra 13 por cento que diz não desejar ter filhos. Em 23 por cento dos casos por tomar a decisão sozinhas.Segundo o responsável, o facto de 46,1 por cento das mulheres que abortaram não usarem qualquer método contraceptivo é associado a razões «difíceis de controlar», como estar à espera de uma consulta ou no início de uma relação, ter problemas de saúde, ou não ter parceiro fixo.A maioria das intervenções (40 por cento) foram feitas em casas particulares (32 por cento em clínicas), por médicos, indicados por amigos. 14,3 por cento viajou até Espanha."
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